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Soft Skills: entenda por que as competências técnicas não bastam

Hoje em dia, para ter sucesso no ambiente de trabalho, você não pode confiar inteiramente apenas em suas habilidades manuais e em seus conhecimentos técnicos - aquilo que você estudou na universidade ou uma segunda língua apreendida, por exemplo. Concorda? Essas são habilidades que, teoricamente, você pode sentar e aprender lendo um livro ou assistindo uma videoaula, a qualquer momento.

A pergunta é: o que realmente nos diferencia como seres humanos? A resposta é simples... Soft Skills!

As Soft Skills - ou simplesmente habilidades sociais - compõem a outra metade do jogo para o sucesso, talvez a mais importante! Tradicionalmente, essas são consideradas traços de caráter e incluem seus níveis de sociabilidade e autoconfiança, além de suas atitudes como pessoa. Estas habilidades você não consegue simplesmente treinar e aprender, pois são inatas à sua personalidade.

Nesse contexto, houve uma mudança drástica no mercado de trabalho, despertando interesses acadêmicos mais amplos na área cultural, bem como mais interesse comercial em disciplinas como psicologia e sociologia. Com isso, as pessoas começaram a perceber que as maneiras pelas quais vínhamos trabalhando há tanto tempo, simplesmente ignoravam as coisas que deveriam ser prioridades. Ponto de atenção!

Atualmente, as empresas buscam locais de trabalho que sejam um prazer trabalhar. E uma das melhores maneiras de promover uma mudança cultural no local de trabalho é através de habilidades interpessoais. Por isso, é muito importante dar a devida atenção ao assunto, a fim de desenvolver e promover nossas melhores Soft Skills da melhor maneira.

Para nos ajudar a esclarecer alguns pontos importantes, entrevistamos Natasha Bontempi, consultora de treinamento e desenvolvimento em Recursos Humanos, e Gabriel Coelho, CEO e fundador da empresa Empodere-se.

1 - O que define uma Soft Skill?

Natasha - Soft Skill são todas aquelas habilidades ligadas ao comportamento humano. Elas podem ser, por exemplo: inteligência emocional, relacionamento interpessoal, comunicação, habilidades em resolução de problemas, inovação, colaboração e etc. Ou seja, tudo aquilo que realmente envolve alguma atitude ou comportamento do ser humano.

Gabriel – Soft Skills são habilidades intangíveis ou não mensuráveis. Ou seja: flexibilidade, capacidade de comunicação, liderança, persuasão, habilidade de negociação, criatividade, capacidade de priorização, pensamento critico, capacidade para tomar decisões, empatia, trabalhar com diversidade, enfim, habilidades “leves” e relevantes. As Soft Skills representam todas aquelas atividades que a máquina não desenvolve ou não tem capacidade de realizar, por isso a grande valorização dessas habilidades para o profissional do futuro.

2 - Qual a diferença entre as chamadas Hard Skills e as Soft Skills?

Natasha - A Hard Skill é uma habilidade técnica, que pode ser desde pregar um prego na parede ou fazer um origami até uma atividade mais complexa como programar um software ou consertar um aparelho eletrônico.

Em alguns momentos o Soft e o Hard se encontram. Por exemplo, se escreveu um texto jornalístico ou uma dissertação, usando um modelo pré-definido e escolhendo as palavras, isso é Hard Skill, mas na medida em que eu me preocupo com a melhor forma de me comunicar com determinada pessoa ou público alvo, isso se torna Soft Skill. Outro exemplo, quando eu preparo uma apresentação em PowerPoint ou uma rápida pesquisa, isso é uma Hard Skill, mas na hora de enfrentar meu medo e apresentar para uma plateia, Soft Skill.

Costumo brincar que é mais “hard” aprender uma Soft Skill do que aprender uma Hard Skill. A Soft Skill realmente exige uma mudança de comportamento e força você a sair de um hábito que você está acostumado, quando falamos em aprendizagem.

Gabriel – As Hard Skills são justamente o oposto. São aquelas habilidades que você consegue quantificar. Por exemplo, o nível de proficiência de uma determinada língua, obter certificados, habilidades em operar softwares e maquinários, capacidade de programação e etc. Ou seja, são habilidades que você consegue desenvolver através de cursos e trabalha-las de forma linear. Obviamente, depende do perfil comportamental do profissional. Porém eu sempre digo que as pessoas são contratadas pelas suas Hard Skills e demitidas pelas suas Soft Skills. Pois, se eu não tiver um entendimento de contexto e do mercado como um todo, as chances de eu ficar para trás são muito grandes.

3 - Quais os diferentes tipos de Soft Skills?

Natasha - Basicamente, tudo o que estiver ligado ao comportamento humano. Inteligência emocional, empatia e liderança são alguns exemplos. Além disso, esses sistemas podem ser desmembrados em várias outras coisas, como comunicação, relacionamento, gerenciamento de conflito, colaboração, resolução de problemas, inovação e até mesmo o próprio exercício de autoconhecimento, a fim de definir um plano de vida ou de carreira. Para você trabalhar uma mudança de comportamento, você precisa se conhecer primeiro.

Gabriel - Como citado na resposta da primeira questão: flexibilidade, capacidade de comunicação, liderança, persuasão, habilidade de negociação, criatividade, capacidade de priorização, pensamento critico, capacidade para tomar decisões, empatia e trabalhar com diversidade. Esses são alguns exemplos.

4 - Qual a importância de desenvolver habilidades interpessoais nos dias de hoje?

Natasha - Gosto dessa pergunta, pois realmente vivemos hoje num mundo muito mais eletrônico, achando que tudo se resolve mandando uma mensagem por WhatsApp ou um e-mail. A gente se esquece de que as habilidades interpessoais vão muito além do que mandar uma figurinha no WhatsApp, essas fazem você estabelecer conexões com as pessoas, criando uma relação de confiança uns nos outros. E por que isso é importante? Porque no final das contas nós, seres humanos, somos animais gregários, ou seja, nós vivemos em grupo. E por mais que existam pessoas introvertidas, a base biológica do ser humano é conviver em grupo desde os primórdios da humanidade. Pensando em nós, Homo Sapiens, animais “frágeis” e pequenos se comparados a vários outros, como conseguimos subir ao topo da cadeia alimentar? Interagindo em grupo, usando habilidades interpessoais.

Desde o final da gestação até o desenvolvimento, nós precisamos do cuidado de outro ser humano para sobreviver. A gente não sai andando por aí logo que nascemos, como um cavalo, por exemplo.  Nós precisamos que alguém nos ensine e trabalhe conosco essas habilidades. Sendo assim, a gente acaba crescendo e se desenvolvendo comm base no contato com outro ser humano. Existem até algumas pesquisas que comprovam que crianças recém-nascidas sobrevivem mais tempo sem alimento do que sem o toque de outro ser humano.

Vou aproveitar e ainda complementar aqui algumas outras coisas. Quando falamos em tornar as coisas mais eletrônicas e mais virtuais isso é muito bacana por um lado, pois facilita e favorece muito em diversos aspectos da nossa vida em sociedade. Mas por outro lado isso também nos distancia. É impressionante o aumento no número de suicídios em função da falta de contato com outros seres humanos. Sem contar com outras disfunções que acabam acontecendo em decorrência do uso excessivo das redes sociais. Hoje a tecnologia se desenvolve mais rápido do que o tempo que a gente leva pra se adaptar a ela. Diversos transtornos e distúrbios de saúde mental e emocional têm acontecido justamente por conta disso.

Trazendo Bauman para nossa pauta, a gente transforma os nossos relacionamentos em um liquidificador, que quando quebrou se joga fora e compra o outro. Quando um relacionamento “quebra”, eu coloco outro no lugar.

Gabriel – É fundamental desenvolver não só as habilidades interpessoais como as intrapessoais também, o que nós chamamos de inteligência emocional. Você precisa ter uma ciência muito grande de quais são os seus pontos fortes e fracos. Em geral os pontos fortes são aquelas coisas que consideramos fáceis e os fracos são aqueles que não temos muita clareza, muitas vezes por estarem “debaixo do tapete”.

Nós perdemos muito isso no nosso modelo social e escolar, por conta da primeira revolução industrial. Perdemos o contato com a nossa essência e nos tornamos padronizados. É possível perceber isso levando em conta que nas escolas a capacidade de memorização ainda é algo muito considerado, senda esta uma habilidade que as máquinas já fazem com muita facilidade e assertividade. Ou seja, estamos preparando crianças para aprender habilidades que serão substituídas pelas máquinas. Em contrapartida, estamos inibindo a criatividade, cujo é de suma importância e relevância para nosso desenvolvimento.

Portanto, a questão de desenvolver uma habilidade intrapessoal é primordial. Sem o autoconhecimento, fica muito difícil reconhecer o outro. Assim como, habilidades interpessoais também são muito importantes e muito ligadas à empatia. Hoje, a forma de fazer negócios, independente do seguimento é realmente ter proximidade com o usuário final, com as áreas que participam dos problemas, como as áreas de SAC, por exemplo. Mais do que nunca, temos que estar ao lado desses stakeholders, que são peças chaves para solução de problemas.

Considerando o papel dos lideres, eu acredito que estes deixaram de serem gurus para serem maestros, compreendendo os diferentes talentos e fortalezas de cada um de seus colaboradores, ao invés de estimular uma competição entre eles, a fim de resolver diferentes problemas e questões.

5 - Como avaliar as habilidades sociais e interpessoais em uma entrevista de emprego? Por outro lado, como usar essas habilidades para ter sucesso na mesma situação?

Natasha - Isso é algo que eu sempre questiono. Quando falamos em Fit cultural, consideramos um grupo de pessoas parecidas e com uma cultura parecida, mas por outro lado, onde entra a diversidade? Quando penso em contratar pessoas que tenham um Fit Cultural com a minha empresa, eu talvez esteja negligenciando a diversidade. Então eu acho importante considerar essa questão na hora selecionar uma pessoa, a fim de obter um time diverso.

Não acredito que todos nós somos mestres em habilidades sociais e interpessoais. Todos nós temos alguma coisa para aprender. Então, sempre seremos deficientes em alguma coisa em torno do que se espera de uma pessoa perfeita. Em decorrência disso, o que acaba acontecendo é a mentira na entrevista de emprego para poder fazer aquele perfil que a empresa quer. E no final, todo mundo é prejudicado, a empresa e o funcionário.

Mas de qualquer forma, eu tenho certeza absoluta que uma Hard Skill você pode ensinar facilmente para uma pessoa, enquanto uma Soft Skill é mais difícil de se desenvolver. Então é melhor que eu consiga uma pessoa com uma Soft Skill já desenvolvida, pois o que é técnico ela aprende. Mais importante do um currículo é a pessoa trazer experiências. Outra forma bem legal é apresentar um case ou uma simulação da vida real, relacionada a uma determinada função. Recentemente eu tive contato com uma rede de restaurante, em que dentro do processo seletivo eles inserem a pessoa durante um dia na rotina de trabalho, para ela conhecer a dinâmica e as pessoas.

Resumindo, eu sou a favor de trazer evidências de experiências passadas para o processo seletivo, mesmo que seja algo simples, como um bom relacionamento no seu último emprego, algo que exigiu um gerenciamento das suas emoções.

Para ter sucesso, eu acredito de verdade que a inteligência emocional é a chave. É importante respirar e encontrar algo que te ajude a relaxar e ficar mais seguro. A questão de autoconhecimento vai te trazer esse jogo de cintura para poder lidar melhor, não só com uma entrevista de emprego, mas também em diversas outras situações da vida.

Gabriel – Acredito ser importante ainda uma entrevista olho no olho, com perguntas qualitativas e abertas, onde você pede exemplos para o entrevistado, referentes a situações especificas e reais. Isso está muito ligado ao pensamento do design, relacionado a pesquisas exploratórias, buscando as reais verdades que estão escondidas dentro de um politicamente correto socialmente aceito. Nós temos a tendência de criar um escudo ou uma persona que nós consideramos ideal para agradar alguém, principalmente em entrevistas de emprego.

Para obter sucesso nessas situações é importante o autoconhecimento. O que você realmente é? Não tem por que você querer dizer algo que você não é. Para que uma empresa e um profissional tenham uma relação satisfatória é preciso uma sinergia de habilidades, valores e propósitos. Sendo assim, a transparência e a legitimidade ainda são os pontos mais importantes em uma entrevista. Confiança é algo raro hoje em dia e isso acaba sendo um diferencial competitivo muito relevante.

6 - Como a empresa pode ajudar os colaboradores a desenvolver e promover essas habilidades no ambiente de trabalho?

Natasha - Vale um investimento e um olhar atencioso para isso, algo que eu não vejo em boa parte das organizações. As empresas querem capacitar tecnicamente o profissional, porém elas dão pouca atenção às Soft Skills. Já vi diversas empresas acharem que você consegue mudar uma habilidade comportamental com o e-learning. Isso não vai acontecer.

O colaborador consegue mudar a ele mesmo. Trabalhando autoconhecimento ele acaba impactando os outros. Agora como organização, a empresa deveria olhar com outros olhos para as Soft Skills e ver isso realmente com uma necessidade maior do que simplesmente grandes treinamentos.

Como ter bons líderes sem preparar uma boa base para desenvolvimento? Vamos fazer um mega processo de trainee e contratar os melhores profissionais, aquelas pessoas que estudaram em Harvard. Será que é só esse o perfil que a empresa deseja? Não adianta contratar cérebros brilhantes sem olhar para a humanidade dentro dessas pessoas. Ninguém vai desenvolver Soft Skills se empresa não deixar explicito a importância disso. É importante despertar o desejo nos funcionários e promover a discussão.

Gabriel – Não existe uma fórmula mágica, mas eu acredito que o nosso papel nas organizações é desenvolver as Soft Skills através de projetos de inovação. Primeiramente, é preciso haver o apoio de uma liderança para qualquer desenvolvimento deste tipo acontecer, a fim de transformar isso realmente em uma cultura da empresa. É fundamental ter nas ações um alinhamento com as próprias palavras. Tendo este apoio, é possível conectar áreas desplugadas, entendendo os problemas em diferentes perspectivas. Os recursos são sempre mais reduzidos do que a quantidade de problemas em qualquer negócio e independente do tamanho.

Com isso, temos que aprender a disseminar estes focos e quebrar o medo de errar e perguntar. O erro faz parte de um processo investigativo e do alcance de resultados. Desta forma, o importante é levar isso para o mindset da empresa.

Para uma grande empresa nascida no mundo analógico, a nossa sugestão é criar cases e casos de sucesso, dentro de uma liderança com essa ideia de transformação, e assim comprovar a assertividade da ideia. Se as empresas não entenderem esse mindset, não trazendo proximidade aos colaboradores, sem um ambiente de trabalho mais inclusivo e diverso, sem indicadores e times multidisciplinares, em prol de um bem em comum, então essas empresas provavelmente irão desaparecer e isso será muito mais rápido do que a gente imagina.

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