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Logística Reversa no Brasil: do diferencial competitivo à necessidade ambiental

A Logística Reversa consiste no retorno de materiais já utilizados no processo produtivo com foco no reaproveitamento ou descarte apropriado de materiais e preservação ambiental.

Alguns segmentos são obrigatórios por lei – Lei 12.305 – a operacionalizar a Logística Inversa, como a de pilhas e lâmpadas. Já os demais que não se encaixam nesse segmento devem ponderar a opção, uma vez que os benefícios são grandes para o meio ambiente e o próprio negócio.

Apesar de não ser prioridade das organizações, a pesquisa Panorama dos Resíduos Sólidos mostrou que foi gerado 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Desse número, 6,3 milhões de resíduos ficaram sem ser recolhidos nas cidades. Esse número evidencia a atenção que as corporações devem dar ao tema, já que o descarte apropriado acarreta diminuição dos custos e consciência ambiental por parte do negócio.

É possível lucrar e dar devida atenção ao meio ambiente. E para saber sobre a situação da Logística Reversa no Brasil, conversamos com Luís Cláudio Martão, especialista em Supply Chain. Continue lendo e atualize-se quanto ao processo da Logística Inversa!

1. Quais são os desafios para instituir a Logística Reversa no Brasil? O que falta para consolidá-la no mercado?

Luís - Os desafios de implantação de Logística Reversa no Brasil são diversos, mas quero destacar cinco que são os principais.

1. Investimento sem visão do retorno

Os investimentos para a Logística Reversa no país soam caros e incertos. Além disso, ainda não há uma percepção clara de que a operação é recompensadora ao final do processo. Por isso, garantir seu início geralmente gera custos altos com ganhos em longo prazo e em alguns casos subjetivos, como, por exemplo, a imagem com o cliente e a sociedade. Isso tem gerado um desestímulo a evolução da mesma.

2. Mercado paralelo

Utilização de materiais indevidamente no mercado com preços reduzidos ou a custo quase zero que deveriam ter uma Logística Reversa para garantir o descarte e/ou reaproveitamento adequados inviabilizam uma operação, e em alguns casos observamos que os fabricantes originais não possuem interesse do reuso proporcionado pela Logística Reversa, que reduziria a sua demanda na aquisição.

3. Transporte

Em uma economia que tem se pautado na eficiência (fazer mais com menos) baratear o custo de transporte é primordial nas operações, em muitos casos a Logística Reversa pode aumentar custos e não agrega valor relevante, assim traz uma visão que não é viável ou mesmo relevante fazê-la.

4. Estrutura adequada

O conceito da Logística Reversa só pode acontecer se os produtos recolhidos forem efetivamente reaproveitados, portanto, torna-se necessário uma reavaliação de todo processo operacional para adequar as empresas para o reaproveitamento total, com certeza é um dos desafios.

5. Falta de conscientização

A falta de conscientização dos consumidores é um dificultador, infelizmente, uma grande parte compram produtos e não pensam em como deverão descartá-los depois de utilizar ou não sabem e nem são informados do seu descarte ou devolução de forma apropriada.

A situação da Logística Reversa no Brasil não é diferente. Apesar da conscientização em reciclar os resíduos e descartá-los corretamente, a falta de importância ao tema faz com que condomínios e residências descartem de forma inadequada, comprometendo a própria operação da Logística Inversa.

2. Quais são os primeiros passos para implementar a Logística Reversa dentro de uma empresa?

Luís - O primeiro ponto a se destacar é a existência da lei que obriga alguns segmentos e empresas a recolher os resíduos dos seus produtos. Por si só, essa já é uma grande razão para aplicar a Logística Reversa no Brasil, visto que o descumprimento pode gerar medidas disciplinares. Mais que isso é necessário que haja uma visão Top Down, ou seja, que a mesma seja pauta das discussões da alta liderança. É necessária uma mudança da forma atual que se vê a Logística Reversa nas empresas, saindo de “um diferencial competitivo intangível” para uma questão de sobrevivência. Sendo assim, essa forma de pensar vai sem dúvida alavancar as iniciativas que devem permear toda a corporação, só aí ganhará espaço nas agendas.

3. Como a Logística Reversa impacta nos negócios da empresa?

Luís - Com a internet e a globalização, os consumidores estão cada vez mais informados, tomando conhecimento sobre tudo o que acontece ao redor do mundo. Dessa forma, tudo o que é repercutido nas mídias sociais toma proporções inimagináveis, para o mal ou para bem. Justamente por isso, implantar a Logística Reversa melhorará a reputação da empresa, gerando maior credibilidade no mercado e facilitando a conquista, a fidelização e o engajamento de clientes.

Outro ponto importante é que, reconhecidamente, empresas que trabalham com políticas de sustentabilidade e a preservação do meio ambiente acabam se tornando mais procuradas pelos profissionais como um lugar para se trabalhar. Além disso, também melhora a visão da empresa de dentro para fora e de fora para dentro, aumenta o engajamento e gera um orgulho de pertencer a uma empresa que respeita o meio ambiente.

4. Depois de adotado, quais são os benefícios da operação na prática?

Luís - O primeiro deles a se destacar é a redução de custos. De fato, essa parece ser uma situação contraditória, pois para implementar a Logística Reversa, a empresa terá que investir, porém, depois de um ciclo formado e bem estruturado, o sistema contribuirá de forma decisiva para a criação de novos produtos com menores custos para a empresa, ou seja, o investimento inicial será compensado rapidamente, e fará com que a empresa impulsione a sua produtividade sem aumentar os gastos.

Para que isso fique mais claro, por meio da logística reversa uma empresa pode consegue reduzir custos ao reaproveitar seu próprio material, utilizar embalagens recicláveis, comprar matéria-primeira reciclada ao invés de virgem (que é sempre mais cara).

5. Em 2018, o Brasil produziu, em média, 79 milhões de toneladas de lixo, uma variação de pouco menos de 1% em relação ao ano anterior. Em outras palavras, a produção de lixo cresce mais que a capacidade para lidar com resíduos. Sendo assim, como você reforçaria a importância de aderir à operação ainda que não seja obrigatório para alguns segmentos?

Luís - Quero deixar aqui duas reflexões! A primeira é que a responsabilidade ambiental deve estar em cada um de nós. Não é de hoje que o planeta pede socorro. Ele está lentamente morrendo e nós não podemos assistir essa cena sem fazer nada. É necessário olharmos para frente, precisamos fazer algo hoje e sem dúvidas a Logística Reversa pode contribuir e muito para uma reversão desse quadro no país. Já o segundo ponto me refiro à perenidade dos negócios, pois vale lembrar que Logística Reversa será uma questão de sobrevivência e não mais um diferencial competitivo.

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