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A educação de hoje nos prepara para as profissões do futuro?

Estamos a bordo da 4ª Revolução Industrial onde a tecnologia e diversos recursos digitais estão à nossa disposição. Temos um mundo de informações ao nosso alcance, e mesmo com um volume infinito de notícias que circulam o tempo todo em uma velocidade absurda, basta uma simples “googlada” para encontrar o que procuramos. Neste cenário, é fundamental que a educação acompanhe o ritmo das transformações que estamos vivendo. Mas isso requer inovação. É preciso sair da caixa mesmo. Quem está fazendo isso? Quase ninguém!

Sabemos que a escola é um lugar de crescimento. É onde surgem projetos, insights, informação, networking e cases. E agora presenciamos o mundo digital sendo incorporado nesses ambientes com os tablets, quadros interativos, aplicativos com o controle das aulas, material didático na nuvem, aulas on-line e por aí vai.

Com todos esses recursos, os alunos - que estão cada dia mais conectados e tecnológicos - chegam na sala de aula e ainda se deparam com modelo de ensino engessado, cheio de protocolos, sem falar nas teorias maçantes. O que prejudica e muito o desenvolvimento dos profissionais de mercado do futuro.

Com a transformação digital, novas profissões estão surgindo em "N" áreas. De acordo com estudo da Dell Technologies, em 2030, 85% das pessoas exercerão profissões que não existem hoje em dia. Mas a questão é: Quem vai nos ensinar a ser o que seremos no futuro? E como?

Uma pesquisa da consultoria Roland Berger estima que nos próximos 20 anos haverá uma escassez de mais de 200 milhões de trabalhadores qualificados no mundo. Os motivos que contribuem para isso é a necessidade de mão de obra qualificada e a existência de modelos de educação ultrapassados.

Como o modelo de educação atual nos prepara para o futuro? Qual será o papel do professor na educação do futuro? Considerando as novas tecnologias e a facilidade que temos para pesquisar em diversos meios, seremos autodidatas no futuro? Nós entrevistamos alguns profissionais que são referência no mercado da educação e tecnologia e reunimos o ponto de vista de cada um deles sobre essas questões. Acompanhe:

Modelo de educação

O modelo de educação tradicional (professor em frente a uma sala de aula, expondo seu "douto saber" a um grupo de alunos) é o mesmo há séculos. A modernidade não trouxe grandes inovações nesta prática. Embora muitos métodos pedagogos tenham se desenvolvido com o passar do tempo (construtivismo russo, Montessori, e por aí vai), nada correlato aconteceu na educação executiva. A andragogia ainda é um campo pouco estudado, se comparado com a educação infantil.

Além disso, muitos conceitos teóricos são pouco praticados na realidade da educação infantil brasileira. O mesmo frio na barriga que os nossos bisavós passaram na véspera de uma prova ainda tem nos atormentado. Nós aprendemos a decorar a mesma tabuada que nossos antepassados. Na prática, ainda estamos presos em comportamentos e práticas de educação antigas.

E se este modelo que temos nos prepara para o futuro?... Bem, de uma certa forma tem funcionado (afinal, todos nós chegamos até aqui com base em abordagens como essa). Mas está na hora da educação passar por uma revolução similar ao que a medicina, por exemplo, passou no século 20. O antibiótico foi inventado em 1928 - e simplesmente revolucionou a vida de todos nós. Qual mudança tão radical aconteceu na educação? Nada parecido!

O papel do professor no futuro

Acredito que o professor continuará a ter um papel vital no processo de educação. Sou bastante cético com relação às ideias de que as profissões serão substituídas por robôs. O professor em especial! Nenhuma inteligência artificial o substituirá. Porém, sua forma de atuação necessariamente precisará mudar. Falando especificamente de educação executiva (de adultos), o professor precisará deixar de ter um comportamento de "quase inacessível", usando de verborragias e conceitos teóricos sofisticados para expor, de maneira arrogante, teorias pouco acessíveis aos alunos. Hoje o aluno, na palma da mão, com um toque de celular, tem acesso a muito mais informações, que extrapolam o conhecimento prévio de qualquer professor. Não é o seu conhecimento que fará a diferença, mas sim sua habilidade como mediador de debates, como facilitador na abstração e compreensão das informações disponíveis.

Seremos autodidatas?

Os alunos já são autodidatas no presente! Isso já está acontecendo. A dinâmica de uma sala de aula já é bastante diferente. Enquanto estou lecionando, o aluno, no mesmo instante, está consultando opiniões e pontos de vistas divergentes. E isso é fantástico! O professor deixou de ser o dono da verdade (na realidade, nunca foi, mas sempre julgou ser). Se bem utilizadas as tecnologias de acesso à informação, formaremos profissionais com pensamento crítico, com habilidade de questionar e de formar sua própria opinião. Cabe ao professor saber utilizar estas tecnologias a favor do aluno.

Modelo de educação

Na minha visão o modelo de educação ideal é o multidisciplinar envolvendo áreas técnicas e também de comportamento, é fundamental ter conhecimento em determinada área, porém o relacionamento entre pessoas e habilidades emocionais são extramente importantes. Além disso, sair mais para o campo da prática, fazer os estudantes colocarem a mão na massa.

O papel do professor no futuro

O papel do professor é dar o caminho, provocar, dar orientações e promover o conteúdo de forma clara e objetiva com a linguagem adequada a cada público. O papel do professor, além disso, é mostrar aos alunos qual é o próximo passo depois do curso ou aula, para onde o aluno deve mirar o seu olhar, por onde o aluno deve dedicar seus esforços pensando em carreira.

Seremos autodidatas?

Nas minhas aulas os alunos ficam com os notebooks abertos e pesquisando temas durante a aula, me questionam, debatemos e a troca de informações e conhecimento é enriquecedor, por isso, acredito que as informações online transformam os alunos e também os professores, deixando ambos mais preparados para aulas mais ricas.

Modelo de educação

Nosso sistema pedagógico está completamente ultrapassado. A maioria dos sistemas educacionais atuais se baseia na mesma hierarquia de aprendizado: matemática e ciências no topo, humanidades no meio, arte na base. Esses sistemas foram desenvolvidos no século 19, em meio à revolução industrial, quando essa hierarquia fornecia a melhor base para o sucesso. A situação não é mais a mesma. Numa cultura tecnológica em rápida mudança e numa economia cada vez mais baseada nas informações, as ideias criativas são o recurso derradeiro. No entanto, nosso sistema educacional atual pouco faz para cultivar esse recurso. Nossos professores incentivam o aprendizado factual, mas a internet torna instantaneamente acessíveis quase todos os fatos desejáveis. Isso significa que estamos treinando nossos filhos em habilidades de que raramente precisam, enquanto ignoramos aquelas absolutamente necessárias. Ensinar às crianças como cultivar sua criatividade e curiosidade, ao mesmo tempo fornecendo uma base sólida em pensamento crítico, leitura e matemática, é a melhor forma de prepará-las para um futuro de mudança tecnológica cada vez mais rápida.

O papel do professor no futuro

Proporcionar uma educação capaz de estimular a reflexão e a crítica, de modo que saibam cultivar a ética, a transcendência, a cooperação, a solidariedade e o respeito à vida. Uma educação plena, que abarque o desenvolvimento físico e intelectual, emocional, espiritual e social das crianças e jovens que estão iniciando a sua caminhada em direção ao futuro. Além disso, ensinar a cada criança os fundamentos da alfabetização e da matemática, pois desde o advento da internet, esses fundamentos são os requisitos necessários para se entender uma parte significativa dos materiais online, assim como sistemas computacionais, redes e sensores, inteligência artificial, robótica, biotecnologia, bioinformática, impressão tridimensional, nanotecnologia, interfaces homem-máquina, engenharia biomédica, fornecendo assim a base de acesso ao que é claramente a maior ferramenta de auto aperfeiçoamento da história.

Seremos autodidatas?

O futuro é o autodidatismo. Dispondo das novas tecnologias o aprendizado passa a ser personalizado, ou seja, ele pode ser ajustado às necessidades e ao estilo de aprendizado preferido do aluno. Usar o laptop como instrumento para envolver as crianças na construção do conhecimento com base em seus interesses pessoais e fornecer ferramentas de software para compartilharem e criticarem essas construções fará com que se tornem aprendizes e professores. Se cada aluno tiver um laptop para estudar ele aprenderá fazendo e a interatividade entre os alunos trarão também grandes benefícios.

Modelo de educação

Existe uma defasagem na educação adulta, pois o modelo está completamente errado. As universidades ainda aplicam um modelo de educação infantil, pedagogia. E com o surgimento das gerações atuais, as pessoas têm mais dificuldade em ficarem paradas ouvindo por muito tempo. Hoje na verdade utilizamos a aprendizagem adulta, chamada andragogia, que na prática poucos conhecem e conseguem aplicar. Então, na minha opinião, 90% das universidades tem um modelo errado de educação. Sem contar o uso de novas tecnologias e abordagens. O modelo sala de aula escolar há muito tempo não deveria ser mais usado, mas ainda é o predominante.

O professor no futuro

O papel do professor é fundamental e continuará sendo. E nós até gostaríamos de trocar o nome professor para facilitador, pois é ele quem conduz o aprendizado. Aqui na Live, nós utilizamos o conceito de sala de aula invertida, ao invés de aprender com uma palestra do professor, você aprende através de atividades e desenvolvendo cases. O papel do professor é ser um facilitador e até um consultor dessas atividades e não focar em teoria.

Seremos autodidatas?    

Na verdade tudo é percentual! Percentualmente aumenta o número de pessoas que estudam sozinhas. Existe uma ciência chamada Heutagogia que estuda o aprendizado autoditada, isso está crescendo, porém o perfil de pessoas que tem disciplina e aproveitamento varia de acordo com cada um. Não existe nenhuma pesquisa e nada que comprove que as pessoas só aprendam nesse formato. Haverá cada vez mais convergência e formato híbridos educação e claramente vão entregar melhor para um grupo híbrido de pessoas também.

Modelo de educação

Entendo que o aluno muda e suas necessidades também. Como a educação formaliza o conhecimento e formata para uma didática, o modelo tende sempre a correr atrás dos alunos, se adaptando. Mas a dinâmica e velocidade com a qual novas técnicas e desafios se expressam hoje tornam o modelo tradicional bastante obsoleto.

O papel do professor no futuro?

O aluno tem encontrando muito material disponível nessa instigante, perigosa, acessível e gratuita biblioteca que é a internet. O professor do futuro precisa estar meio passo à frente dos alunos sempre que possível. Neste sentido, o professor acaba se tornando muito mais um orientador do que um mestre enigmático e inalcançável. Como o conhecimento está acessível e, às vezes, falacioso, o professor do futuro deve ajudar o aluno a discernir e traduzir o conhecimento para o mundo prático. Por vezes, o professor auxilia na evolução do conhecimento e outras vezes ajuda o aluno a organizar o que já existe de forma didática, apenas inspirando o autodidata. Essa função do professor catalisa o aprendizado e aplicação.

Seremos autodidatas?

Cada vez mais donos do próprio desenvolvimento, sim. Os alunos devem aumentar a capacidade de entenderem conceitos sozinhos através de leituras e vídeos, mas novos desafios já surgiram nos últimos 10 anos, relativos ao EAD e crescimento exponencial de material disponível. O papel do professor vai acelerar a produtividade dos alunos neste contexto em que o aluno pode ser dono de seu desenvolvimento, mas fica frágil o não ter como validar suas próprias extrapolações ou não ter com quem comparar suas interpretações. O professor e as instituições de ensino reforçarão, desta forma, sua função de hub para discussão, debate e destilação do conhecimento.

Modelo de educação

Sinceramente, não acredito no modelo vigente de educação em nosso país. Não só porque ele se prova ineficiente nas categorias mais objetivas dele que são: Qualificar o ser humano para compreender o mundo como também formar uma biblioteca de conhecimentos específicos e plurais. Além disso, a desvalorização da figura do professor, bem como do mediador necessária, empobrece ainda mais a qualidade da educação. Os modelos olham para o estudante apenas como um sujeito que é passivo na sua instrução. Acredito mais na disciplina educativa e na independência do aluno dos modelos educacionais. A escola é hoje uma das maneiras mais rápidas de formar profissionais com fetiche aos símbolos externos, como títulos e diplomas e pouco eficiente em criar habilidades e competências úteis e eficientes para a sociedade.

O papel do professor no futuro

Eu vejo que o professor está deslocado e ocupa cada vez menos a centralidade da educação. Ele tem perdido espaço dentro da sua autonomia por conta de algumas metodologias que diminuem ou enfraquecem a ação e a influencia do mediador. Acredita-se, neste modelo vigente no país, que o aluno é o centro da realidade educacional. Então, o professor é simplesmente um elemento de apresentação e condução de alunos. Mas para compreender o conhecimento como um todo, entendo que se deve haver uma mistura dos métodos dedutivos e indutivos nos processo educacionais.  Aí está a força do mediador. O professor no futuro, será apenas um mero suporte para o conhecimento, quando na verdade, deveria ser o espelho que reflete a educação.

Seremos autodidatas?

Antes de entender o autodidata, é necessário compreender que não existe conhecimento sem mediador. Por isso, apesar das grandes mudanças e das tecnologias disponíveis, ainda sim, o processo de educação precisará de validações, provas sociais, instrumentalização e para isso, somente a figura de uma instituição. Aquela que quiser ter conhecimento independente conseguirá, mas aquela que quiser ter seguramente um conhecimento validado, precisará de uma orientação mais aprofundada.

 

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