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Blockchain para tudo? Especialistas discutem uso da tecnologia além do bitcoin

Imagine que uma tecnologia utilizada em transações financeiras seja tão eficiente que poderia desburocratizar inúmeros serviços públicos, evitar fraudes, facilitar negócios, tudo de forma descentralizada, segura e transparente. Sim, este sonho, que parece ter saído de uma ficção futurista, existe e atende pelo nome de blockchain, que é o sistema por trás do funcionamento e sucesso do bitcoin na internet.

Se você ainda não sabe o que são essas duas palavrinhas que acabou de ler ou não entende a sua dimensão, sugiro a leitura do artigo “Desmistificando Bitcoin e Blockchain: Conheça a tecnologia que promete mudar o mundo”, que a gente escreveu aqui no blog em 2017 e tem uma boa explicação de como tudo isso funciona, mas antes confira aqui as entrevistas que fizemos com pessoas do mercado e que são protagonistas no tema!

Conversamos com oito especialistas em TI e negócios para que eles possam mostrar os seus pontos de vista sobre o futuro desta tecnologia e como ela pode estar presente cada vez mais no nosso dia a dia. Todos responderam como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda, qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive e se já é possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados. Confira!

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Ana Élle - O blockchain vem para revolucionar diversos mercados, como exemplo: imobiliário, seguradoras, música e, como estamos vendo, no mercado financeiro, com as fintechs (empresas de tecnologia focadas em serviços financeiros). O Walmart, que é uma gigante no setor no varejo, já utiliza esta tecnologia para otimizar o seu setor de supply chain. A procura por um lote de produtos com problemas, que antes durava cerca de uma semana, teve seu tempo reduzido para oito segundo, graças ao blockchain.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Ana Élle - Esta é uma tecnologia que vai muito além das criptomoedas e será tão importante quanto a internet foi para o mercado. O blockchain fornece segurança (sua criptografia nunca foi violada) e transparência de uma forma que nunca vimos. Seria impossível, por exemplo, fraudar uma eleição ou uma licitação, devido a sua característica de transparência e imutabilidade.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Ana Élle - O blockchain com toda certeza é uma das tecnologias mais disruptivas do momento, assim como IoT, Realidade Virtual/Mista/Aumentada e a Inteligência Artificial. Pode ser que, no futuro, o blockchain substitua outras formas de armazenamento de dados. Porém, prever esse tipo de coisa, neste momento, ainda seria um pouco prematuro. De qualquer forma, se o processo depender de segurança, transparência e imutabilidade, hoje não existe solução melhor. A tecnologia já se provou eficiente com o que é mais importante para a sociedade, o dinheiro.

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Carl Amorim - Para entender a aplicação do blockchain e conseguir extrapolar sua aplicabilidade é preciso entender que criptomoeda é apenas uma das sete classificações de "cripto-ativos" possibilitados pelo blockchain. Essa diferenciação se dá pela possibilidade de um ativo digital assumir mais de um papel.

Dependendo de seu uso, ele pode ser uma moeda quando utilizado para transações financeiras, pode ser um título mobiliário ou imobiliário quando representar participação em um empreendimento e pode ser um produto quando representar um ativo físico como um animal, um diamante ou um hectare de plantação. Como também pode representar uma combinação dos três papéis quando você pode usar como um token na participação em um empreendimento, para pagar uma compra, onde ele é um titulo, sendo utilizado como moeda.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Carl Amorim - A transformação digital só será possível sobre um protocolo de blockchain, pois ele permite que saiamos da internet da informação para uma internet de valor, onde as transações de ativos em geral (dinheiro, títulos, ativos, votos, identidade etc.) serão feitas num blockchain ou DLT (tecnologia distribuída).

Isso permitirá que modelos que aliem Inteligência artificial e internet das coisas a um blockchain, automatizem os processos de negócios, acelerando negociações, rastreamentos e pagamentos. O que hoje seria feito sob a dependência de muitas etapas envolvendo pessoas, autorizações e burocracias.

É preciso lembrar que o blockchain é uma revolução de modelos de negócios, não tecnológica. Sua adoção exige uma mudança de paradigma do modelo centralizado para o distribuído, que só se sustenta se o blockchain for utilizado para o fluxo da transação.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Carl Amorim - É até possível que o blockchain substitua outras formas de armazenamento de dados, mas é utopia, como também é utopia imaginar que uma nova tecnologia pode tornar obsoleto algum outro modelo de negócio ou processo interno. Acho que o blockchain será mais uma alternativa, dentre várias disponíveis e que dependerá de uma análise de custo beneficio para ser adotada.

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Iran Porto Jr - O Brasil ainda não conta com nenhuma política pública que direcione ou promova o uso da tecnologia blockchain por parte do governo brasileiro. No entanto, diversos órgãos públicos, como o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), o Banco Central e o BNDES, já estão trabalhando em projetos pilotos utilizando tecnologias baseadas em blockchain. No Serpro, por exemplo, nós apresentamos, ainda em 2017, um protótipo envolvendo o aplicativo do Tesouro Direto que contava com um mecanismo de cadastro único de investidores nas corretoras via blockchain. Além disso, desde o ano passado, estamos oferecendo uma plataforma de BaaS (Blockchain as a Service) baseada no Hyperledger Fabric. Atualmente, estamos desenvolvendo um sistema de compartilhamento de informações de contratos em parceria com o Banco do Brasil e a Caixa.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Iran Porto Jr - As DLTs possuem grande potencial para viabilizar a transformação digital dos serviços públicos. Isso se dá tanto pela possibilidade de automação de processos por meios dos contratos inteligentes (smart contracts) como pelo uso de livros-razão (ledgers) distribuídos, que facilitam o compartilhamento de informações atualmente dispersas nas diferentes bases de dados das três esferas do governo brasileiro.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Iran Porto Jr - A principal indicação da tecnologia não é a substituição dos sistemas de gerenciamento de bancos de dados relacionais utilizados atualmente pelas principais bases de dados do governo. Mas, sim, servirem como bases compartilhadas pelos diferentes órgãos para dar mais celeridade, segurança e confiabilidade na execução dos serviços públicos. Estas bases servem como repositórios do resultado de transferências financeiras entre órgãos, de resultados de processos internos ou envolvendo mais de uma instituição, registros de acesso ou liberação do acesso aos dados. Isso facilitará a colaboração e a auditoria dos processos nos sistemas de informação governamentais, garantindo não apenas transparência como eficiência.

Além disso, a automação dos processos via contratos inteligentes e a popularização do uso de certificados digitais dará fim aos muitos atendimentos que ainda são feitos de forma manual em balcões de atendimento, acabando assim com filas e a necessidade da exigência de cópias de documentos em meio físico. Isso trará ao cidadão uma clara percepção da redução no tempo de atendimento das suas demandas junto ao Estado.

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Juliana Assad - Eu acredito no uso de blockchain principalmente para aplicações que necessitem conferir transparência, rastreabilidade/auditabilidade, contabilidade perfeita e resistência à fraude. Dito isto, eu vejo um novo patamar para sistemas de transferência de propriedade, identidade, cadeias de suprimento, registro de certificados/documentos ou qualquer informação crítica, contas/gestão pública, transferência de valores em escala global, para citar alguns. Mas é importante dizer que muitas outras aplicações surgirão com modelos de negócios totalmente novos. Quem viveu o início da Internet não imaginava o que surgiria além do e-mail e provedores de internet. A combinação do blockchain com outras tecnologias será uma tendência cada vez maior.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Juliana Assad - A grande inovação por trás do blockchain é a criação de um sistema de contabilidade global perfeita e resistente à fraude, se utilizado da forma correta. Isso em tempos de uma crescente crise de confiança global nas instituições, nos governos e de fontes de informação, com um crescente aumento de fraudes e incidentes de segurança e num mundo cada vez mais conectado e sem fronteiras. O uso do blockchain me parece um caminho sem volta: global, auditável e imutável.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Juliana Assad - Não imagino que o blockchain substitua outras formas de armazenamento de dados. Nem todas as aplicações necessitam, por exemplo, de imutabilidade. Às vezes pode até não fazer sentido para um determinado modelo de negócios. Costumo dizer que blockchain não é um remédio para todos os males, nem milagroso. O que não tira seu mérito como uma das inovações mais interessantes dos últimos tempos. O que eu tenho visto, principalmente em soluções corporativas, é a incorporação de uma ou outra funcionalidade do blockchain em estruturas de dados convencionais.

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Luiz Gustavo - Podemos entender o blockchain como uma grande plataforma transacional, para qualquer tipo de operação, financeira ou não, entre pessoas, empresas e entidades (governos, etc). Esta plataforma possibilita que as partes (“players”) realizem uma transação de forma segura, inviolável e com acesso controlado.

Hoje já existem cases do blockchain atuando neste negócio e diminuindo em mais de 40% do tempo da operação entre as partes e economizando valores consideráveis.

A estrutura de blockchain irá atuar em todas as áreas, setores, companhias, órgãos governamentais e no dia a dia de cada pessoa. Irá revolucionar a maneira como fazemos nossas transações, eliminando intermediários e garantindo mais visibilidade a todos. Exemplos: transações entre governos, transações bancárias, histórico médico.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Luiz Gustavo - A revolução digital já começou há muito tempo, a diferença é que hoje está muito mais perceptível. O blockchain irá permear todas as camadas da sociedade digital, possibilitando que as transações operem de maneira segura e transparente. No futuro, dificilmente conseguiremos fazer alguma coisa sem que, de alguma forma, passemos pelo blockchain.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Luiz Gustavo - As atuais formas de armazenamento de dados ainda permanecerão e outras formas mais sofisticadas surgirão. O blockchain só irá transformar isto em uma coisa transparente para o usuário final.

É claro que tudo isto também passa pela evolução da sociedade e dos governos, pois esta mesma estrutura (além da inteligência artificial, robótica, etc) também poderá ser utilizada para cercear a liberdade e destruir o ser humano como indivíduo único.

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Rodrigo Ventura - Você pode aplicar a tecnologia de blockchain em tudo aquilo que tiver conflito de interesses, em que a informação seja pouco transparente entre as partes, em processos que exijam transferências físicas ou financeiras internacionais e em situações em que podemos otimizar os contratos.

Imagina que você está registrando a qualidade de uma carne. A gente teve a época da "vaca louca", em que foi sacrificado todo o rebanho brasileiro. Com o blockchain, poderíamos especificar a fazenda onde houve o problema em vez de sacrificar o rebanho todo. Ou quando há o recall de uma fruta que está estragada no supermercado, não precisaria condenar o lote todo, bastaria especificar aquele determinado pacote. Isso dá uma rastreabilidade e uma auditoria perfeita. O blockchain pode ser utilizado em diversas indústrias, entrando com força e reinventando tudo.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Rodrigo Ventura - Eu acho que o processo de transformação protagonizado pelo blockchain vai ser tão intenso e disruptivo quanto foi a invenção da internet. É como se a gente estivesse vivendo em 1994 de novo. Agora temos uma situação em que criamos a internet de valor. Trocar dinheiro é muito mais intenso que trocar informações, fotos e vídeos. Essa tecnologia vai propiciar que pessoas tenham acesso ao sistema financeiro. Estamos falando de desbancarizar todos os bancarizados. A gente não tem mais fronteira nem uma autoridade central para nos dizer o que fazer ou não no ponto de vista financeiro. Isso é uma disrupção muito grande.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Rodrigo Ventura - Quando a internet surgiu, não existia, por exemplo, o internet banking, não tínhamos esse tipo de comunicação e isso cresceu de tal forma que ninguém hoje vive sem o internet banking. E, com o blockchain, acho que vai acontecer a mesma coisa. À medida que esta tecnologia evoluir e os serviços se tornarem mais user-friendly, mais maduro, entraremos num caminho sem volta.

O millennial vai adotar a tecnologia cripto e o blockchain, ele vai ficar cada vez mais familiar na utilização disso. O mercado de bitcoin tem mais de 1,2 milhão de clientes, enquanto a Bovespa possui apenas 600 mil CPFs cadastrados. Hoje, os millennials representam 54% da população mundial, eles possuem massa para mudar o mundo.

*Respostas anteriormente publicadas em artigo no Jornal O Estado de S. Paulo

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Tatiana Revoredo - Devido as qualidades como transparência, auditabilidade, imutabilidade e segurança, a tecnologia blockchain trouxe um veículo sem precedentes para transferência de valor, verificação e registro de informações online, e já foi testada, com sucesso, em soluções de tecnologia financeira. Por isso, sua aplicação em diversos setores como energia, logística, gerenciamento de registros de saúde e votação, vem sido desenvolvida e será, num futuro próximo, efetivamente implementada.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Tatiana Revoredo - Sua importância/relevância no processo de transformação digital em que o mundo vive hoje pode ser percebida, por exemplo, na China. A CCTV (emissora controlada pelo governo chinês) transmitiu um show de uma hora sobre blockchain com autoridades do governo e especialistas internacionais que, além de explicarem o conceito e o valor do blockchain, ensinou aos telespectadores que “o valor do blockchain é 10 vezes maior que o da internet”.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Tatiana Revoredo - Sim, é quase certo que blockchain substitua outras formas de armazenamento de dados. Mais de 80 milhões de euros já foram destinados a projetos de apoio ao uso de blockchain na indústria, e cerca de 300 milhões de euros de financiamento adicional serão atribuídos ao blockchain até 2020.

A União Europeia, contudo, não é a única a perceber o caráter fundamental dessa tecnologia (comparável ao surgimento da internet). Há uma corrida legislativa internacional para o desenvolvimento de ambientes favoráveis ao ecossistema blockchain.

Nos Estados Unidos, no Relatório Econômico de 2018, o Congresso Americano dedicou um capítulo completo à tecnologia blockchain e às criptomoedas, reconhecendo o blockchain como uma tecnologia revolucionária por sua imutabilidade, velocidade e eficiência no compartilhamento e processamento de dados.

Como é possível aplicar a tecnologia do blockchain em outras áreas, além da criptomoeda?

Walter Soubihe - Existem algumas iniciativas de uso em SCM 4.0 (sistema de gestão usado pelo setor de Supply Chain), onde as trocas de produtos, assim como o Tracking & Tracing (acompanhamento e rastreio), já estão sendo testados em alguns países. Ou seja, quando houver a necessidade de administrar muitos dados simultaneamente e, ao mesmo tempo, trazer a contrapartida financeira, pagamentos, etc. Isso ajuda no planejamento e antecipa ações corretivas e/ou preditivas.

Qual será sua importância/relevância no processo de transformação digital que o mundo vive?

Walter Soubihe - Acredito que o blockchain é de suma importância no processo de transformação digital, pois ele exige que, para se capturar seus benefícios, a sociedade vença as barreiras para a adoção da colaboração em cadeia. Isso levará as organizações para patamares de maior maturidade de seus processos e, consequentemente, de seus profissionais.

É possível imaginar que o blockchain substituirá definitivamente outras formas de armazenamento de dados?

Walter Soubihe - Podemos imaginar muitas coisas para se fazer com o blockchain, mas acredito que a tecnologia vai continuar evoluindo para outras alternativas. É certo que o cloud computing, por exemplo, trará ainda muitas evoluções e novidades tanto em armazenamento como em modelos de negócios.

 

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